De 29.06 a 05.07

 

*Grande destaque da semana, a mostra 5 x Godard, parceria entre o Cine Brasília, a Cinemateca da Embaixada da França e o InstitutFrançais, apresenta cinco das principais obras do grande cineasta francês, um dos criadores da “Nouvelle Vague” francesa, movimento que revolucionou o cinema mundial e, segundo muitos, trouxe a modernidade para a chamada “sétima arte”. Entrada no valor único de R$5,00.

*Para o público infantil, exibição de O Gato de Botas 2: O Último Pedido, dirigido por Joel Crawford. O filme possui os recursos de acessibilidade legendas, audiodescrição e janela de Libras através do aplicativo Mobi LOAD.

 

A semana proporciona a chance de o espectador (re)visitar uma parte significativa da obra de um dos maiores realizadores do cinema em todos os tempos. Dividida muito claramente em três períodos, a carreira de Godard é em si mesma ilustrativa e uma reafirmação de sua importância para o cinema que se imagina “futuro” – considerando inclusive a nossa contemporaneidade. Quando surge em 1959, com Acossado, a motivação inicial de Jean-Luc Godard era um sentido de liberdade absoluta da linguagem. O cinema passa a ser o tema mesmo dos seus filmes. Categorias como realismo, expressionismo ou qualquer que seja, perdem o sentido. Godard é um modernista (pós-moderno?) brechtiano. Cultura erudita, subcultura, cultura de massa, HQs, todos num mesmo caldeirão, um monumento à desconstrução de paradigmas e ao distanciamento crítico.

Filmes como O Demônio das Onze Horas, A Chinesa, O Desprezo, e mesmo Acossado e Alphaville – todos presentes em 5 X Godard – não lidam só com enredos, mas com ideias. Semiologia e metalinguagem puras. O segundo movimento da carreira de Godard é uma consequência direta dos eventos de maio de 1968. A questão que o revolucionário francês se colocava era mais ou menos a seguinte: como pode um radical fazer um filme dentro do sistema de produção capitalista? Se seu cinema já era de difícil comunicação com o público, a partir de então todos os vasos comunicantes são cortados.

Cinema não é mercadoria, ele diria, fazendo coro a pensadores marxistas, como o filósofo francês Theodor Adorno, por exemplo. Godard se junta a Jean-Pierre Gorin e ao Grupo Dziga Vertov (o grande realizador russo que antecipou procedimentos metalinguísticos à linguagem do documentário), vai para as portas das fábricas e das universidades e assume a militância política. Nesse momento, seu cinema assume uma contradição difícil de resolver. Em seus filmes, a dialética da forma e do conteúdo atinge uma dimensão paradoxal. Para Godard, o “realismo” seria uma forma essencialmente burguesa. Godard quer fazer filmes como “ação política”. Para ele, as ideologias do “real”, do “natural” e mesmo da “verdade” devem ser destruídas. “Cinema não é como as coisas são e sim como as coisas verdadeiramente são”, afirma ele, num “oxímoro” que define inteiramente sua persona de artista. Ele também não parece um cabotino quando diz, em sua obra JLG/JLG (Jean-Luc Godard por Jean-Luc Godard), que “se existe alguma verdade nos lábios dos poetas, eu sobreviverei”. É ver para crer, ou talvez, crer para ver. A mostra 5 X Godard tem o apoio da Cinemateca da Embaixada da França e do Institut Français. Os ingressos têm o valor único de R$5,00.

Filme que teve a première mundial no Festival International Du Film de Saint-Jean-de-Luz, na França, em 2022, e estreou na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, La Parle chega agora aos cinemas brasileiros pela Pandora Filmes. Produzido pelas brasileiras Claraluz Filmes e Kinoteka, em parceria com a francesa Les Films Bleus, o longa foi filmado quase inteiramente com iPhones. Os realizadores queriam mobilidade para viver o filme enquanto atuavam. “Queríamos experimentar esse aparelho usado para os registros mais banais e insignificantes de uma forma conceitual e orgânica”, disseram.

Isso contribuiu para o tom documental da narrativa que assume as imperfeições da imagem como linguagem. “Queríamos transformar o ordinário em extraordinário”, explicou a diretora Gabriela. Além de dirigir La Parle, o quarteto de realizadores também assinou o roteiro e atuou no filme. Elas tinham um esboço inicial como ponto de partida. Depois compartilharam e acrescentaram questões e conflitos reais das suas vidas. A partir desses conflitos, reescreveram e dramatizaram a ficção que vemos na tela. Essa mistura de realidade e ficção é a essência da narrativa do filme. O fato de serem os protagonistas e de terem filmado com o celular, acabou dando o toque que contribuiu para grande originalidade de toda a narrativa.

 

EM CARTAZ

Bem-Vindos De Novo, de Marcos Yoshi, conta a saga dos dekasseguis, descendentes japoneses que têm a entrada facilitada na “terra do sol nascente” para atuar na linha de produção de diversas fábricas. Apesar das condições precárias de trabalho e da carga horária excessiva, diversos brasileiros com traços asiáticos embarcam nessa jornada por um salário maior do que aqueles que recebiam no Brasil. Bem-Vindos de Novo é um filme simples, mas que traz questões importantes sobre identidade e pertencimento. O documentário acompanha a reconexão entre o casal descendente de japoneses Yayoko e Roberto Yoshisaki e seus 3 filhos, que foram deixados aos cuidados dos avós por 13 anos, enquanto os pais trabalhavam no Japão. A complexa reconstrução afetiva familiar é documentada pelo filho, o diretor Marcos Yoshi. Bem-vindos de Novo é um filme informativo sobre uma situação dramática e desconhecida pela maioria dos brasileiros

Obra incontestável pela relevância e por tudo o que ele significa para o cinema brasileiro Deus e o Diabo na Terra do Sol ganhou sua versão restaurada em 4K pela união de esforços do produtor Lino Meireles com a diretora Paloma Rocha, filha de Glauber Rocha.  A nova versão do filme teve sua estreia mundial, em 2022, na seção Cannes Classics, na 74ª Edição do Festival de Cannes. Curiosamente, Deus e o Diabo havia estreado mundialmente em 1964 na mostra competitiva do mesmo festival. É o segundo longa-metragem de Glauber, realizado dois anos depois de Barravento. Mas é Deus e o Diabo a obra que marca o apogeu do Cinema Novo, movimento inaugurado ainda nos anos 50, que marca a entrada do cinema brasileiro em sua fase adulta e moderna. O filme permanece em cartaz no Cine Brasília com entrada franca.

O Cinema Novo de Glauber revolucionou a herança do Neorrealismo italiano  que, sem dúvida, marcou profundamente filmes como Rio 40º (1955) e Rio Zona Norte (1957), ambas de Nelson Pereira dos Santos, pioneiro do movimento. Deus e o Diabo é uma criação barroca, terceiro-mundista, com influências da Nouvelle Vague francesa, especialmente Godard, da vanguarda russa de Eisenstein, da literatura de cordel, do documentário social, do teatro simbolista e ainda do western. É ver para crer.

 

PARA CRIANÇAS

Para o público infantil, exibição de O Gato de Botas 2: O Último Pedido, dirigido por Joel Crawford. O filme possui os recursos de acessibilidade legendas, audiodescrição e janela de Libras através do aplicativo Mobi LOAD.

 

SELEÇÃO DE CURTAS CINE BRASÍLIA

O curta-metragem da semana é Expurgo, produção de Minas Gerais, com direção de Henrique Canazart. O curta será exibido na mesma sessão do longa La Parle, seguindo com o compromisso de semanalmente exibir um filme da Seleção de Curta-metragem da Chamada Pública do Cine Brasília acompanhando um longa programado.

 

OFICINA

A oficina “Preservação Audiovisual para criadores e métodos de digitalização” é dirigida a profissionais da área cinematográfica e também para leigos. Ela será realizada presencialmente, no dia 1º de julho, das 10h às 12h, no foyer do Cine Brasília. Vagas limitadas a 30 participantes. As inscrições podem ser feitas no formulário aqui.

O tema da preservação e restauro será apresentado por William Plotnick, formado em Arquivos de Imagens e Preservação pela Universidade de Nova York e diretor executivo da Cinelimite, e por Glênis Cardoso, cofundadora do Verberenas, projeto que inclui uma revista online sobre cinema e mulheres. É preservadora assistente da iniciativa de digitalização de filmes brasileiros, criada pela Cinelimite.

 

PROGRAMAÇÃO

QUINTA-FEIRA (29/06/2023)
10h00 – O Gato de Botas 2 – O Último Pedido
14h00 – Deus e o Diabo na Terra do Sol
16h15 – Bem-Vindos de Novo
19h00 – O Diabo entre as Pernas (MOSTRA DE CINEMA LATINO-AMERICANO E CARIBENHO)
21h00 – Algo Azul (MOSTRA DE CINEMA LATINO-AMERICANO E CARIBENHO)

 

SEXTA-FEIRA (30/06/2023)
10h00 – O Gato de Botas 2 – O Último Pedido
14h00 – Deus e o Diabo na Terra do Sol
16h15 – Bem-Vindos de Novo
18h30 – Acossado (Mostra 5X Godard)
20h15 – Expurgo (Curta) + La Parle

 

SÁBADO (01/07/2023)
10h00 – O Gato de Botas 2 – O Último Pedido
14h00 – Deus e o Diabo na Terra do Sol
16h15 – Bem-Vindos de Novo
18h30 – O Desprezo (Mostra 5X Godard)
20h15 – Expurgo (Curta) + La Parle

 

DOMINGO (02/07/2023)
10h00 – O Gato de Botas 2 – O Último Pedido
14h00 – Deus e o Diabo na Terra do Sol
16h15 – Bem-Vindos de Novo
18h30 – O Demônio das Onze Horas (Mostra 5X Godard)
20h40 – Expurgo (Curta) + La Parle

 

SEGUNDA-FEIRA (03/07/2023)
14h00 – Deus e o Diabo na Terra do Sol
16h15 – Bem-Vindos de Novo
18h30 – Alphaville (Mostra 5X Godard)
20h40 – Expurgo (Curta) + La Parle

 

TERÇA-FEIRA (04/07/2023)
10h00 – O Gato de Botas 2 – O Último Pedido
14h00 – Deus e o Diabo na Terra do Sol
16h15 – Bem-Vindos de Novo
18h30 – A Chinesa (Mostra 5X Godard)
20h15 – Expurgo (Curta) + La Parle

 

QUARTA-FEIRA (05/07/2023)
10h00 – O Gato de Botas 2 – O Último Pedido
14h00 –  Deus e o Diabo na Terra do Sol
16h15 – Bem-Vindos de Novo
18h30 – Acossado (Mostra 5X Godard)
20h15 – Expurgo (Curta) + La Parle

 

Curtiu a programação?  Acompanhe os horários no site e aproveite para assistir importantes obras do audiovisual ao longo da semana. Desde 2022, a casa do cinema brasileiro possui uma nova gestão compartilhada entre a OSC Box Cultural e a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal. O espaço cultural segue sob a direção geral de Sara Rocha e curadoria de Sérgio Moriconi.

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