Como parte da parceria entre Cine Brasília e a Cinemateca da Embaixada da França no Brasil e Institut Français, estreia com sessões com valor único de R$5,00 a comédia francesa Os 2 Alfred, dirigida por Bruno Podalydès.
Prata da casa, Iberê Carvalho marca a semana de 11 a 17 de maio de 2023, no Cine Brasília. Na quinta-feira, dia 11, o realizador lança em circuito nacional o seu segundo longa-metragem, O Homem Cordial, com um elenco que chama a atenção: Paulo Miklos, Thaíde, Roberta Estrela D’Alva, entre outros. O tratamento é inteiramente distinto de O Último Cine Drive-in, auspiciosa obra inicial, toda ela rodada em Brasília, e de temática muito próxima à vivência dos brasilienses. A história de O Homem Cordial se passa quase em sua totalidade numa única noite. As reviravoltas surpreendentes servem muitas vezes a denúncias e comentários críticos sobre questões sociais importantes. Questões de raça estão no centro das preocupações de Carvalho. O Homem Cordial desconcerta a situação de privilégio do protagonista branco, em oposição ao que ocorre com os personagens negros, especialmente o menino desaparecido.
O diretor reconhece que a cidade de São Paulo cumpre um papel de um terceiro personagem do filme. O protagonista, vivido pelo ator/cantor Paulo Miklos, vive a sensação de estar constantemente sendo observado e julgado. “A cidade de São Paulo, com todos seus edifícios, veículos e transeuntes representa uma ameaça a Aurélio”, afirma Carvalho. Para ele, “a história precisava de uma grande metrópole que nunca dorme e que possibilitasse uma estrutura de road movie, onde a jornada vai se desenrolando pela cidade e vai, a cada encontro, apresentando situações que só uma megalópole poderia proporcionar.”
Mas vamos dar a palavra ao diretor Iberê Carvalho: “No Brasil, que teve sua formação social e econômica profundamente marcada pela escravidão, é impossível falar de desigualdade social sem tocar na questão racial. Eu diria que a questão racial é o tema principal de O Homem Cordial. Contudo, como eu, um homem branco, poderia tratar desse tema? Ora, a questão racial é sim uma questão que precisa ser tratada pelos brancos. Afinal, o racismo é cometido, geralmente, por quem”? Assim, desde o início, os roteiristas Pablo Stoll Ward e o próprio Carvalho sabiam bem sobre o que queriam falar: o crescimento do discurso de ódio na sociedade. Os autores revelam que o fato de terem visto um vídeo do músico Chico Buarque sendo assediado em um restaurante teria sido uma espécie de gatilho – a consciência do momento oportuno – para a colocação de uma série de questões a serem discutidas no filme. O longa possui acessibilidade em libras, legenda e audiodescrição através do aplicativo Mobi LOAD (baixe o app aqui).
No dia seguinte à estreia comercial de O Homem Cordial, acontece a pré-estreia de Maria, também uma direção de Iberê Carvalho, para uma parceria entre a Globo Filmes, a Pavirada Filmes, a Quartinho e a Gancho de Nuvem. A comédia romântica reúne um grande time de atores de Brasília e apresenta a cantora Dhi Ribeiro como protagonista. Com roteiro de Renata Mizrahi, Maria fala de sonhos e da coragem para conquistá-los.
Estrelar um filme é só mais uma conquista da cantora Dhi Ribeiro, nascida em Nilópolis, no Rio de Janeiro, criada em Salvador, Bahia e radicada em Brasília. Dhi começou seu caminho na arte como modelo, cantou em trios elétricos já em Brasília, foi mestre de cerimônia e cantora no Circo di Lidia Togni na Itália durante três anos, participou do The Voice Brasil, cantou em muitas das principais cidades brasileiras e por aí vai. Uma vida de muitos tempos ao mesmo tempo. Agora, vai mostrar ao público seu trabalho como atriz. Dhi Ribeiro dividirá as cenas com atores do talento de Nando Cunha, Duda Moreira, Miriam Virna, Matheus Ferrari, Wellington Abreu, Nathalie Amaral e Nadja Dulce.
Em Os 2 Alfred, sua nova comédia, o diretor Bruno Podalydès (“Bancos públicos“, “O mistério da sala amarela“) ataca com veemência e humor não só o mundo do trabalho, visto sob o prisma supostamente moderno das startups, mas também a intrusão da tecnologia digital em nossas vidas. Aqui, o diretor inclui no elenco seu irmão Denis como ator principal. Ele é um velho desempregado que luta para voltar ao mercado de trabalho. A grande estrela feminina desta divertida comédia é Sandrine Kiberlain (a incrível gerente de projetos ultraconectados), vista há pouco no Cine Brasília como a diretora estreante do ótimo A Garota Radiante. No filme de Podalydès ela dá a si mesma o papel de Arcimboldo, numa clara referência ao pintor Giuseppe Arcimboldo, conhecido mundialmente por criar cabeças a partir de uma imaginativa montagem de frutas e vegetais.
Kiberlain vive uma cruel recrutadora de funcionários, se utilizando dos métodos mais impiedosos e hipócritas. No final das contas, Os 2 Alfred faz uma cáustica crítica à desumanização da sociedade através das soluções digitais que se afastam cada vez mais das necessidades mais triviais dos indivíduos e da população. O filme se diverte com a comédia da repetição, em particular com o aparecimento recorrente de um carro autônomo pouco inteligente ou de drones de entregas (os ColiBirds) que se tornam hilariantemente caóticos. O diretor consegue encontrar em seu filme um bom equilíbrio entre os excessos cômicos e a crítica social.
Segue em cartaz, O Lodo, filme baseado em um conto de mesmo nome do escritor Murilo Rubião, que mistura suspense e humor numa atmosfera gótica e kafkiana. O cineasta Helvécio Ratton diz que “a ideia é colocar o espectador na mente do protagonista, em seu mundo cada vez mais estranho e claustrofóbico”. Sonho e realidade se misturam neste filme surpreendente. No elenco estão vários atores e atrizes do Grupo Galpão (um dos mais importantes grupos de teatro do Brasil), como Eduardo Moreira e Inês Peixoto.
Em conversa com a imprensa, Helvécio Ratton revela que o que mais o atraiu no conto de Rubião foi a naturalidade com que o autor insere o absurdo na vida dos personagens, à maneira de Kafka. “No filme, há uma tensão crescente entre a narrativa realista e a sucessão de acontecimentos insólitos na vida do protagonista. Por um lado, tudo está em seu lugar, a vida parece seguir seu curso normal. Mas, por trás dessa normalidade aparente, surge, repentinamente, o absurdo, com sua lógica de pesadelo ou de estados alterado da mente, o que desconcerta”, acrescenta o diretor. Nesse entrecho kafkiano, o protagonista, Manfredo (Eduardo Moreira), funcionário de uma empresa de seguros, sempre preso a funções burocráticas, começa a se sentir deprimido e busca ajuda de um psiquiatra, o Dr. Pink (Renato Parara).
Exibido na mostra competitiva do Festival de Cannes de 2022, Pacifiction, de Albert Serra, foi indicado pela internacional como uma das obras mais marcantes de 2023. Celebrado pela Cahiers Du Cinéma, o filme é um thriller político que passeia pelo surrealismo e o realismo possível. A trama passada na Polinésia francesa, mais precisamente em Taiti, discute o colonialismo francês através de uma escritora em crise e um diplomata que esconde o reinício de um projeto de testes nucleares no local. Pacifiction foi distinguido com dois prêmios César, os de Melhor Fotografia e o de Melhor Ator para Benoît Magimel, que interpreta um alto funcionário do governo francês, homem calculista e cheio de maquinações políticas.
Albert Serra, premiado cineasta catalão, faz um cinema de linguagem muito própria que tem se destacado no meio cinematográfico europeu. Sobre o filme, o diretor disse ter sempre tido uma ideia muito clara quando resolveu fazer o filme. O tratamento inicial era próximo de um falso idílio numa região idílica, mas isso logo se desvanece a partir de uma premissa política de choque social de poder, entre ricos e pobres. Tratava-se então de construir um desafio sobretudo formal de propor imagens insólitas na representação daquele falso mundo.
Serra pensou em subverter as teses de Rousseau de que “o ser humano é naturalmente bom. Em estado de natureza, viveria uma vida isolada dos demais, plenamente livre e feliz”. Os indivíduos seriam o que o filósofo chamava de “o bom selvagem”. Serra então induz o espectador a um estado de perplexidade frente aos fatos que vão se desenrolando ao longo do enredo. Pacifiction, como o próprio nome já induz, subverte expectativas e se transforma numa experiência cinematográfica ao mesmo tempo extravagante e extraordinária.
Para o público infantil, permanece em cartaz Chef Jack – O Cozinheiro Aventureiro, uma animação toda ela realizada em Minas Gerais e dirigida por Guilherme Fiúza Zenha. A trama é comum a vários filmes documentários sobre chefes de cozinha interessados em sair da mesmice dos restaurantes convencionais. No filme, Jack é um prodígio da “Cozinha Aventureira” e viaja por todo o mundo em busca dos ingredientes os mais raros e apetitosos para suas receitas. Ele é um “cozinheiro” bem-conceituado, mas que, de repente, vê sua fama desmoronar.
O filme comenta com inteligência a moda dos reality shows. Jack decide participar de uma grande competição chamada “Convergência dos Sabores”, um concurso destinado a todos aqueles que pretendem se aventurar em mundos desconhecidos da cozinha e de seus infinitos sabores. O filme possui acessibilidade em libras, legenda e audiodescrição através do aplicativo MovieReading (baixe o app aqui)
Seguindo com o compromisso de semanalmente exibir um filme da nossa Seleção de Curta-metragem da Chamada Pública do Cine Brasília acompanhando um longa programado, apresentamos nesta semana, antes das sessões do longa O Homem Cordial, de Iberê Carvalho, o curta brasileiro Manhã de Domingo, de Bruno Ribeiro, vencedor do Urso de Prata de Melhor Curta-metragem do Júri Internacional na 72ª edição do Festival de Berlim, em 2022. No filme está a história de Gabriela, que se prepara para um recital de piano, mas um sonho com sua falecida mãe desestabiliza sua mente. A partir de uma série de encontros, ela se lança em uma jornada de reconciliação.
Segundo o júri do Festival de Berlim, “o filme se movimenta da ansiedade de uma performance musical para a experiência de aceitar um momento de perda. O drama vem de momentos sutis vivenciados pela protagonista, tanto na realidade quanto em suas lembranças imaginárias. Com um domínio extraordinário sobre a imagem cinematográfica, Bruno Ribeiro pinta o retrato de um artista que enfrenta a perda enquanto luta entre o medo e o desejo de vencer.”
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