Um dos episódios menos conhecidos da nossa história, foi a grande inspiração da cineasta mineira Elza Cataldo neste seu novo longa-metragem As Órfãs da Rainha. O título do filme, segundo explica a diretora, se refere à uma categoria de mulheres que vieram para o Brasil  a contragosto para formar as primeiras famílias brasileiras. Todo rodado no interior de Minas, numa vila cenográfica construída em Tocantins, na Zona da Mata mineira, terra natal da diretora, o filme narra a trajetória de Leonor, Brites e Mécia, jovens criadas como católicas, sob a proteção da Rainha de Portugal, após a morte dos pais na fogueira da Inquisição. O longa conta uma história de amor e intolerância no contexto histórico da chegada da inquisição no Brasil no século XVI. O filme teve a consultoria de historiadores importantes como Ronaldo Vainfas e Mary Del Priore.

O período é o final do século XVI. A monarca envia as três irmãs de origem judaica para a colônia brasileira com a ordem de se casarem. O filme enfatiza a tentativa delas se adaptarem à diversidade e precariedade do Novo Mundo, ignorando a própria origem cristã-nova. Nesse processo, elas acabam desenvolvendo relações amorosas inesperadas e profundas: Leonor se apaixona por Escobar e com ele tem filhos, Brites tenta conquistar o marido violento e Mécia, que permanece solteira devido a uma deficiência física, se encanta com um indígena. A situação das jovens se torna insustentável quando um Inquisidor chega ao Brasil. As três irmãs são denunciadas por seus hábitos domésticos, impregnados de indícios da religião judaica.

A importância de As Órfãs da Rainha se dá por apresentar aos brasileiros uma realidade absolutamente inexplorada no cinema – e em outros campos da arte – sobre o nosso processo de colonização entre os séculos XVI e XVIII. A Inquisição faz parte desse contexto, perseguindo principalmente judeus que vieram da Europa. Muitos argumentam que por aqui não “teve fogueira e nem, por exemplo, um Tribunal do Santo Ofício”, mas ela perseguiu indivíduos de ambos os sexos e, “nos casos considerados mais graves, as pessoas eram enviados para Portugal e lá, sim, eram queimados em praça pública”, ressalta a diretora Elza Cataldo.

A diretora levaria quase uma década para concluir o projeto de As Órfãs da Rainha. Precisou ler inúmeros documentos e livros sobre, principalmente, o século XVI, processo que a fez viajar para a Espanha e Portugal em busca de novas fontes de informação. Ela escreveu o roteiro ao lado de Newton Cannito e Pilar Fazito e com a consultoria, dentre outros, do historiador Ronaldo Vainfas, um dos principais especialistas no tema da Inquisição no Brasil. No elenco do filme, atores consagrados do Teatro Galpão de Belo Horizonte. Entre eles, os extraordinários Eduardo Moreira e Teuda Barra. A direção de fotografia é de Fernanda Tanaka.

O Homem Cordial, de Iberê Carvalho, continua em cartaz. O filme traz no elenco Paulo Miklos, Thaíde, Roberta Estrela D’Alva, entre outros atores. O tratamento aqui é inteiramente distinto de O Último Cine Drive-in, auspiciosa obra inicial do diretor, toda ela rodada em Brasília, e de temática muito próxima à vivência dos brasilienses. A história de O Homem Cordial se passa quase em sua totalidade numa única noite. As reviravoltas surpreendentes servem muitas vezes a denúncias e comentários críticos sobre questões sociais importantes. Questões de raça estão no centro das preocupações de Carvalho.  O Homem Cordial desconcerta a situação de privilégio do protagonista branco, em oposição ao que ocorre com os personagens negros, especialmente o menino desaparecido. O filme possui os recursos de acessibilidade legendas, audiodescrição e janela de Libras através do aplicativo MobiLOAD.

Para o público infantil, permanece em cartaz Chef Jack – O Cozinheiro Aventureiro, uma animação toda ela realizada em Minas Gerais e dirigida por Guilherme Fiúza Zenha. A trama é comum a vários filmes documentários sobre chefes de cozinha interessados em sair da mesmice dos restaurantes convencionais. No filme, Jack é um prodígio da “Cozinha Aventureira” e viaja por todo o mundo em busca dos ingredientes mais raros e apetitosos para suas receitas. Ele é um “cozinheiro” bem conceituado, mas que, de repente, vê sua fama desmoronar. O longa-metragem possui recursos de acessibilidade de legendas, libras e audiodescrição através do aplicativo MovieReading.

O documentário Mulheres na Conservação, de Paulina Chamorro e João Marcos Rosa, chega a Brasília no dia 22 de maio, Dia Internacional da Biodiversidade. O filme de 45 minutos faz um recorte delicado desse universo feminino que está à frente de ações e estudos sobre Conservação e Meio Ambiente no Brasil. O evento começa às 19h, com um coquetel, seguido da exibição do filme às 20h40 e debate com a diretora Paulina Chamorro, pesquisadoras e apoiadores do projeto. A entrada é gratuita.

Entra em cartaz o longa-metragem A Cidade dos Abismos, de Priscyla Bettim e Renato Coelho, que conta a história de Glória, mulher trans, Bia, jovem da classe média paulistana, e Kakule, imigrante africano, testemunham uma morte brutal na véspera do Natal. O filme possui os recursos de acessibilidade legendas, audiodescrição e janela de Libras através do aplicativo MobiLOAD.

Seguindo com o compromisso de semanalmente exibir um filme da Seleção de Curta-metragem da Chamada Pública do Cine Brasília acompanhando um longa programado, apresentamos nesta semana, antes das sessões de Rama Pankararu, o curta brasileiro Baile, de Cíntia Domit Bittar, vencedor do prêmio de Melhor Curta no 60º Festival Internacional de Cine de Cartagena de Índias 2020 e de Melhor Diretor no 29º CurtaCinema – Rio de Janeiro ISFF.

Curtiu a programação?  Acompanhe os horários no site e aproveite para assistir importantes obras do audiovisual ao longo da semana. Desde 2022, a casa do cinema brasileiro possui uma nova gestão compartilhada entre a OSC Box Cultural e a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal. O espaço cultural segue sob a direção geral de Sara Rocha e curadoria de Sérgio Moriconi.

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