Volta ao cartaz o polêmico “Holy Spider”, dirigido pelo diretor iraniano-dinamarquês Ali Abbasi. Na sexta-feira, dia 2, o Cine Brasília promove uma masterclass on-line e gratuita com Fred Burle, um dos coprodutores do filme.

 

Uma das grandes estreias do ano do circuito brasileiro, no insólito “EO o mundo é um lugar misterioso quando visto pelos olhos de um animal. EO é um burrico cinza de olhos melancólicos. Na sua jornada, ele conhece pessoas boas e más: após deixar o circo, percorre Polônia e Itália, experimenta alegria e dor, transforma sua sorte em desastre e seu desespero em uma inesperada felicidade. Mas nem por um momento perde sua inocência. O filme é uma homenagem do veterano diretor polonês Jerzy Skolimowski ao filme “Au Hasard Balthazar” (1966) de Robert Bresson. É o próprio Skolimowski quem diz: “Há décadas, eu disse em uma entrevista (acho que foi para a Cahiers du Cinéma) que o único filme que me levou às lágrimas foi Au Hasard Balthazar (1966). Acho que o descobri logo após seu lançamento. Desde então, não derramei uma única lágrima no cinema. Assim, o que devo a Robert Bresson é ter adquirido a forte convicção de que fazer de um animal a personagem de um filme, não apenas é possível, como pode ser uma fonte de emoção”.

Um dos grandes diretores do cinema europeu, Jerzy Skolimowski nasceu em 1938, em Lódz, na Polônia. Cineasta, roteirista, poeta, dramaturgo, pintor e ator, Skolimowski se formou em Etnologia, Literatura e História na Universidade de Varsóvia, em 1959. Depois, em 1962, se graduou em direção na  Lodz Film School, a mesma também cursada pelos seus compatriotas Jerzy Kawalerowicz e Wojciech Has – para citarmos apenas dois dos fundadores da chamada “nouvelle vague” polonesa.

Skolimowski dirigiu 19 longas nos últimos 63 anos de carreira. Recebeu o Urso de Ouro no Festival de Berlim pelo filme “Le Départ”, em 1967; e o Grande Prêmio do Júri do Festival de Cannes por “O Grito”, em 1978. Em 1982, com “Moonlighting”, protagonizado por Jeremy Irons, venceu o Prêmio de Melhor Roteiro em Cannes. Outra de suas grandes obras, “O Ato Final” (1970) foi considerado no Brasil um dos maiores filmes da década.

Em 2008, ano que marca o seu retorno à realização depois de 17 anos, Skolimowski apresentou “Quatro Noites com Anna”na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes. Em 2011, com “Essential Killing”, protagonizado por Vincent Gallo, venceu o Grande Prêmio do Júri na Mostra de Veneza. Com “EO”, lançado em Cannes em 2022, recebeu, além do Prêmio do Júri, a indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

Nossa segunda estreia é um filme surpreendente e singular. Em”Uýra – A Retomada da Floresta uma artista trans indígena viaja pela Amazônia em uma jornada de autodescoberta, usando a arte performática para ensinar aos jovens indígenas que eles são os guardiões das mensagens ancestrais da floresta amazônica. Mas o fundamento do filme está ancorado na percepção de que vivemos em um país que mata o maior número de jovens trans, indígenas e ambientalistas em todo o mundo. Uýra então lidera um movimento crescente por meio da arte e da educação, ao mesmo tempo em que promove a união através da junção de movimentos LGBTQIA+ e de ambientalistas no coração da Floresta Amazônica. O filme rompe as fronteiras entre o documentário e a ficção e também entre os chamados filmes de arte e social.

O curta-metragem “Mergulho”, uma produção do Rio de Janeiro, de Marton Olympio e Anderson Jesus, será exibido antes das sessões de “Uýra – A retomada da floresta”, seguindo com o compromisso de semanalmente exibir um filme da Seleção de Curta-metragem da Chamada Pública do Cine Brasília acompanhando um longa programado.

Ainda nesta semana, o Cine Brasília promove a volta ao cartaz do polêmico “Holy Spider, com direção de Ali Abbasi. Nesta obra corajosa, uma jornalista investiga o submundo da cidade sagrada iraniana (Mashad) à procura de um serial killer de prostitutas. Rahimi (a protagonista) é uma mulher independente e destemida e sofre com a misoginia, por não seguir o comportamento discreto e praticamente invisível esperado das mulheres iranianas.  Mas ela não se dobra aos abusos e segue com as investigações sem ajuda de nenhuma das autoridades locais. Em uma situação extremamente precária e vulnerável, contando apenas com a colaboração do jornalista Sharifi (Arash Ashtiani), Rahimi mergulha no submundo da cidade sagrada. Uma imagem, até então, bastante distante da que temos quando pensamos nas relações interpessoais em uma teocracia do Oriente Médio. O consumo de drogas, a prostituição e a miséria de mulheres completamente desamparadas pelo Estado são esfregadas em nossa cara sem nenhuma piedade.

Abbasi foi acusado por parte da imprensa europeia de voyeurismo misógino. Mas há aqueles que têm uma percepção inteiramente oposta. Segundo os que defendem a obra, não deixa de ser muito importante uma abordagem sem a maquiagem e a mão da censura iraniana, onde a realidade pode ser, sim, feia, desnuda e perturbadora, rompendo com o tratamento suavizado e bem-comportado que marca muitas das obras que passam pelo crivo do departamento cultural do Irã. É uma crítica direta à misoginia presente em países onde normas religiosas são levadas ao extremo e se misturam com leis estatais avessas à laicidade.

Excepcional animação, “Josep encerra temporada no Cine Brasília com mais três sessões. O filme integrou a seleção oficial do Festival de Cannes em 2020, recebeu o Prêmio de Melhor Filme de Animação Europeu e foi apresentado no tradicional Festival de Annecy. Animação dirigida ao público adulto, “Josepse passa em fevereiro de 1939, no momento em que republicanos espanhóis estão fugindo da ditadura de Franco para a França. A história é baseada em fatos e personagens verídicos: o governo francês acenou com a possibilidade de ajuda, mas construiu campos de refugiados isolados, confinando os estrangeiros, onde eles mal tivessem acesso à higiene, à água e a alimentos. Em um desses acampamentos, separados por arame farpado, dois homens se tornam amigos. Um é guarda, o outro é Josep Bartoli (Barcelona 1910 – NYC 1995), um ilustrador que luta contra o regime de Franco e que se tornou um dos grandes expoentes das artes gráficas espanholas. Devido a parceria com Cinemateca da Embaixada da França e do Institut Français, os ingressos para as sessões da animação francesa têm preço único de R$ 5,00.

Chef Jack – O Cozinheiro Aventureiroé uma animação mineira dirigida por Guilherme Fiúza Zenha. A trama é comum a vários filmes documentários sobre chefes de cozinha interessados em sair da mesmice dos restaurantes convencionais. No filme, Jack é um prodígio da “Cozinha Aventureira” e viaja por todo o mundo em busca dos ingredientes mais raros e apetitosos para suas receitas.  O filme terá mais duas sessões nos dias 6 e 7 (terça e quarta-feira). O longa-metragem possui recursos de acessibilidade de legendas, libras e audiodescrição através do aplicativo MovieReading.

 

MASTERCLASS GRATUITA COM COPRODUTOR HOLY SPIDER

Para acompanhar a presença de “Holy Spider” na tela do Cine Brasília, no próximo dia 02 de junho (sexta-feira), haverá uma masterclass sobre Formatação De Projeto De Longa-Metragem Para O Mercado Internacional com Fred Burle, um dos coprodutores do filme. A conversa, limitada a 50 participantes, será online pelo zoom do Cine Brasília, das 10 às 12h, e com emissão de certificado. As inscrições podem ser feitas através de um formulário de inscrição, disponível aqui.

 

MOSTRA MEU PRIMEIRO CINEMA

Mostra de cinema para a infância que permanece em cartaz até 4 de junho, nas sessões das 9h30 e das 14h30 do Cine Brasília. Sob coordenação geral de Leo Hernandes e curadoria de Clarice Cardell e Vicky Romano, a mostra oferece programação para todas as idades, desde bebês de 0 a 5 anos até crianças de 11 anos. As sessões são separadas por faixa etária: às 9h30, crianças de 8 a 11 anos; às 14h30, crianças de 6 a 8 anos; e a Mostra Bebelume, para os bebês, sempre às 10h e às 15h. Entrada franca.

CONFIRA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA AQUI.

Curtiu a programação?  Acompanhe os horários no site e aproveite para assistir importantes obras do audiovisual ao longo da semana. Desde 2022, a casa do cinema brasileiro possui uma nova gestão compartilhada entre a OSC Box Cultural e a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal. O espaço cultural segue sob a direção geral de Sara Rocha e curadoria de Sérgio Moriconi.

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