Dois momentos especiais na programação do Cine Brasília esta semana: A presença do ator Marco Nanini – que lança filme e biografia – e a Mostra Isabelle Huppert – 70 Anos em 7 Filmes, uma parceria do Cine Brasília com o grupo Petra Belas Artes de São Paulo, para celebrar os 70 anos da grande atriz francesa Isabelle Huppert.
Marco Nanini vai estar presente em Brasília nos dias 17 e 18 de março (sexta-feira e sábado) para uma dupla jornada no Cine Brasília: ele acompanhará as duas sessões especiais de As Cadeiras e fará uma tarde/noite de autógrafos da sua recém-lançada biografia intitulada ‘O Avesso do Bordado’ (Mariana Filgueiras, Cia das Letras, 344 páginas). As exibições de As Cadeiras acontecem às 19h e o lançamento do livro na sexta-feira, dia 17/3, às 17h, no foyer do cinema. No sábado (18/3), às 17h, haverá um bate-papo com o diretor Fernando Libonati, com mediação do artista e educador Rodrigo Fischer e a atriz, cineasta e dramaturga Luciana Martuchelli, aberto ao público e gratuito. O tema é a criatividade e a inovação viabilizando a produção cultural em cenários desafiadores, como o da pandemia.
As Cadeiras nasceu do desejo profundo de seguir fazendo teatro durante a pandemia, tanto de Marco Nanini, como de Fernando Libonati e Camilla Amado (1938-2021), cujo trabalho acabou sendo o derradeiro ato de uma trajetória intensa dedicada aos palcos. Com a incerteza de quando seria possível reencontrar o público, Nanini, Camilla, Fernando e a equipe começaram a fazer leituras e ensaios virtuais em 2020 e, com o prolongamento da pandemia, resolveram que apresentariam a obra em dois formatos: ao vivo e gravado. Filmaram o espetáculo no turbulento janeiro de 2021. O espelho entre a ficção e a realidade era inevitável ao encenar este clássico do Teatro do Absurdo que fala justamente sobre incomunicabilidade, com dois personagens isolados em uma ilha.
O resultado é o “Teatro na tela”, em que, através de recursos do audiovisual e um texto universal, a história é contada com o que há de mais precioso no teatro, que são os intérpretes.
Também em estreia, Medusa, da jovem cineasta brasileira Anita Rocha da Silveira, exibido na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes 2021, reafirma sua predileção pelo cinema de gênero, cuja abordagem evoca o horror psicológico introduzido no imaginário popular. As conseqüências sociais daí decorrentes transmuta-se numa fábula que tem tudo a ver com a nossa contemporaneidade. Após o excelente Mate-me Por Favor!, Anita quis agora discutir a massificação do radicalismo religioso. Com uma narrativa arthouse, de estética pop-vanguardista-neon (com a intenção de criar o tom fútil, artificial, anti-naturalista e desconexo com a realidade – que remete à aura etérea de Suspiria, de Dario Argento) – Medusa cria uma atemporalidade futurista que potencializa o crescente conservadorismo religioso
Outro excepcional filme em cartaz, Belas Promessas tem como tema as maquinações políticas que fazem, e sempre fizeram parte do jogo político. O filme, exibido na mostra Horizonte do Festival de Veneza é dirigido por Thomas Kruithof e traz Isabelle Huppert como a grande protagonista. A cereja do bolo da exibição de Belas Promessas é a inclusão em nossa programação da mostra Isabelle Huppert – 70 Anos em 7 Filmes, uma parceria do Cine Brasília com o Cine Petra Belas Artes de São Paulo. Na grade – que celebra o aniversário de 70 anos atriz -, obras que demonstram a versatilidade da artista. Evidentemente, estão presentes três dos seus principais filmes dirigidos por Claude Chabrol: Um Assunto de Mulheres, Madame Bovary e Mulheres Diabólicas, além de Salve-se Quem Puder (a Vida) obra dirigida pelo companheiro de nouvelle vague Jean-Luc Godard. Fique Comigo, do ator e diretor francês contemporâneo Samuel Benchetrit, vem acompanhado na programação dos longas Amateur, do norte-americano Hal Hartley, e de A Visitante Francesa, do coreano Hong Sang-Soo. Todos os filmes da mostra em homenagem a Isabelle Huppert serão acompanhados do curta-metragem brasiliense Cão Maior, de Filipe Alves.
Em relação a Belas Promessas, o diretor explica que sempre se interessou pelo tema da política que, segundo ele, “é onde tudo acontece”. Ele resolveu fazer o filme depois das eleições francesas de 2017. Ressalta “que o foco de seu filme não são, na verdade, as ideologias, mas o cotidiano das figuras políticas e suas ações concretas. Em vez de contar histórias passadas das personagens, queria que estivéssemos logo com elas, queria as apresentar conforme a narrativa avança. Quando o público descobre o problema que têm de resolver, percebemos por pequenas pistas quem são, de onde vêm, um pouco como na vida quando conhecemos alguém.”
No filme, Huppert interpreta Clémence Collombet, ex-médica e prefeita de uma cidade empobrecida nos arredores de Paris. Sua carreira está perto do final, logo serão as eleições, e ela espera abandonar a política. Ela é honesta e competente, mas sem grandes ambições. Porém, um convite para integrar um ministério pode mudar seus planos e sua visão de mundo. Ela percebe então que os embates que terá pela frente são muito mais duros do que imaginava.
A Felicidade das Pequenas Coisas, de Pawo Choyning Darji, do Butão, permanece em cartaz no Cine Brasília. O filme repete o fenômeno Gabbeh, de Mohsen Makhmalgaf, filme iraniano que permaneceu mais de um ano em cartaz em algumas salas brasileiras. Assim como a produção iraniana, A Felicidade seguiu por doze meses na telas dos cinemas Petra Belas Artes em São Paulo. O que estaria por trás desse fenômeno? Muito provavelmente a delicadeza e a busca de uma existência genuína e pura. O diretor revelou que sua intenção ao decidir fazer o filme (sua estréia no cinema!) era simplesmente contar uma história específica sobre o atual momento do seu país numa circunstância específica no tempo. O Butão é considerado por muita gente o país mais feliz do mundo, mas, segundo ele, se vive numa espécie de armadilha entre tradição e modernidade. Muita gente no Butão se assemelha ao protagonista do filme.
Muitos não têm a noção de pertencimento. Acreditam que serão felizes longe de casa, em países modernos como a Austrália, os EUA e o Canadá. Muitos butaneses sonham com as luzes das grandes cidades. Esta foi a razão de Pawo querer contar a história do filme, uma história que vai na direção oposta. A personagem vai ser professor na região mais remota do Butão. O título original do filme é Lunana, que quer dizer “vale escuro”, o exato oposto de “luz. E o sentido do filme é, segundo o diretor, a descoberta que a personagem faz desse profundo processo interior: “só quem conhece a escuridão pode entender e valorizar a luminosidade, a luz.”
Também permanece em cartaz no Cine Brasília Clarice Lispector: A Descoberta do Mundo, ensaio documental criado a partir de uma seleção de depoimentos da escritora Clarice Lispector e entrevistas com amigos e familiares em uma costura poética visual de trechos adaptados da sua obra. O filme contempla a exibição de material inédito e resgata a participação da escritora no programa Os mágicos, da TV Educativa, em dezembro de 1976. Neles e na série de depoimentos coletados vários aspectos da vida privada de Clarice são revelados pela primeira vez. Também fatos dramáticos, como o incêndio provocado por ela própria que queimou sua mão e braços, evento que mudou inteiramente a sua personalidade.
Nas sessões infantis das 10h, o Cine Brasília apresenta O Grande Mauricinho, adaptação para o cinema de um dos escritores ingleses mais queridos do mundo da fantasia, Terry Prachett. O filme tem como protagonista um gato falante que viaja de cidade em cidade oferecendo seus serviços como exterminador de ratos. Com direção de Toby Genkel, O Grande Mauricinho traz as vozes de Marcelo Adnet como o gato Mauricinho e Sophia Valverde, interpretando a menina Marina. Com roteiro assinado por Terry Rossio, roteirista de sucessos como Aladdin e Shrek, o filme conta a história do gato viajante e falador, que com ajuda seu parceiro Kinho, um menino que toca flauta muito bem, leva os ratos a marchar para longe da cidade, para o alívio dos habitantes. Mauricinho pega o dinheiro da recompensa e vai até uma distância segura para contar e dividir os ganhos com Kinho… e com os ratos! Esses não são ratos comuns – eles falam, usam roupas e sonham com uma ilha paradisíaca onde ratos e humanos vivem juntos e em paz. Tudo vai bem com o “golpe dos ratos”, até que eles chegam à cidade de Bad Blintz, onde conhecem uma garota obcecada por livros, Marina, que os leva em uma aventura para resolver um grande mistério da cidade.
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ATENÇÃO ACESSIBILIDADE! Os filmes Medusa e As Cadeiras possuem recursos de acessibilidade via aplicativo do MovieReading Brasil.
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Curtiu a programação? Acompanhe os horários no site e aproveite para assistir importantes obras do audiovisual brasileiro ao longo da semana. Desde 2022, a casa do cinema brasileiro possui uma nova gestão compartilhada entre a OSC Box Cultural e a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal. O espaço cultural segue sob a direção geral de Sara Rocha e curadoria de Sérgio Moriconi.