Estreia a produção francesa Eugênia Grandet, adaptação do romance de Honoré de Balzac. A exibição é uma parceria do Cine Brasília com a Cinemateca da Embaixada da França e Institut Français e o ingresso para este filme terá valor único de R$5,00

 

Prata da casa, Iberê Carvalho lança em sessão de pré-estreia o seu segundo longa-metragem, O Homem Cordial, dia 02, com as presenças de Paulo Miklos, Thaíde, Roberta Estrela D’Alva, e equipe no debate que acontece logo após o filme. O tratamento aqui é inteiramente distinto de O Último Cine Drive-in, auspiciosa obra inicial, toda ela rodada em Brasília e de temática muito próxima à vivência dos brasilienses. A história de O Homem Cordial se passa quase em sua totalidade numa única noite. As reviravoltas surpreendentes servem muitas vezes a denúncias e comentários críticos sobre questões sociais importantes. Questões de raça estão no centro das preocupações de Carvalho.  O Homem Cordial desconcerta a situação de privilégio do protagonista branco, em oposição ao que ocorre com os personagens negros, especialmente o menino desaparecido.

O diretor reconhece que a cidade de São Paulo cumpre um papel de um terceiro personagem do filme. O protagonista, estrelado pelo ator/cantor Paulo Miklos, vive a sensação de estar constantemente sendo observado e julgado. “A cidade de São Paulo, com todos seus edifícios, veículos e transeuntes representa uma ameaça a Aurélio”, afirma Carvalho. Para ele, “a história precisava de uma grande metrópole que nunca dorme e que possibilitasse uma estrutura de road movie, onde a jornada vai se desenrolando pela cidade e vai, a cada encontro, apresentando situações que só uma megalópole poderia proporcionar.”

Mas vamos dar a palavra ao diretor Iberê Carvalho: “No Brasil, que teve sua formação social e econômica profundamente marcada pela escravidão, é impossível falar de desigualdade social sem tocar na questão racial. Eu diria que a questão racial é o tema principal de O Homem Cordial. Contudo, como eu, um homem branco, poderia tratar desse tema? Ora, a questão racial é sim uma questão que precisa ser tratada pelos brancos. Afinal, o racismo é cometido, geralmente, por quem”? Assim, desde o início, os roteiristas Pablo Stoll Ward e o próprio Carvalho sabiam bem sobre o que queriam falar: o crescimento do discurso de ódio na sociedade. Os autores revelam que o fato de terem visto um vídeo do músico Chico Buarque sendo assediado em um restaurante teria sido uma espécie de gatilho – a consciência do momento oportuno – para a colocação de uma série de questões a serem discutidas no filme.

A estreia da semana é a ótima adaptação do romance de Honoré de Balzac Eugénie Grandet. A exibição marca o início de uma parceria entre o Cine Brasília, a Cinemateca da Embaixada da França e o Institut Français neste ano com sessões especiais no valor único de R$5,00. O filme, escrito e dirigido por Marc Dugain, é uma adaptação livre curiosa. Dugain é também romancista e se esforçou para modernizar o romance de Balzac, usando os elementos que encontram eco em nosso mundo de hoje. Centra-se, assim, na relação entre Eugénie e o pai e transforma o trágico destino de Eugénie Grandet numa história de emancipação de uma mulher. Ele soube manter a força dos personagens, em particular a de Félix Grandet, ajudado, é verdade, pelo poder do jogo de Olivier Gourmet. O filme é, portanto, uma sátira feroz sobre a ganância. A  excelente fotografia, assinada por Gilles Porte, é inspirada na pintura flamenga.

Romance e filme apresentam a mentalidade da época da Restauração (1814 – 1830) e, como Um Conto de Natal, de Dickens, ou O Avarento, de Molière, desenvolve o tema da avareza exacerbada. Aborda também a paixão despertada em uma jovem provinciana de 23 anos por seu primo aristocrático. Ela vive com seus pais em Saumur, às margens do rio Loire,.

Segunda estreia em nosso cinema, O Pastor e o Guerrilheiro, de José Eduardo Belmonte, tem sua trama em grande parte passada em Brasília. O filme é um drama histórico inspirado em fatos reais que mostra as grandes mudanças ocorridas entre os anos sessenta e a virada do milênio. Do sonho comunista em meio à ditadura, surge a história de um pastor e de um guerrilheiro, indivíduos de visões de mundo opostos, mas complementares. Os personagens são observados sob a perspectiva contemporânea de um mundo já sem utopia na virada do milênio. O filme revela um Brasil que sofre radicais transformações entre as décadas de 1960 e o ano dois mil. A narrativa tem como pano de fundo a ditadura militar e revela, claro, as mudanças culturais ocorridas no país: o fim da utopia comunista e o crescimento do segmento evangélico. Belmonte busca dialogar com espectadores do mundo todo, ancorado numa história ao mesmo tempo brasileira e universal, sobre dois homens de fé: um comunista e um cristão que se encontram nos momentos mais difíceis de suas vidas. Um filme atual, contemporâneo e necessário, em um momento em que a América Latina volta a flertar com a extrema direita e com regimes autoritários.

Em cartaz, A Terra Negra dos Kawa, dirigido por Sérgio Andrade, participou de vários eventos cinematográficos, entre eles a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e o Festival do Rio. Esta curiosa ficção científica segue um grupo de cientistas que faz escavações em terrenos no interior do Amazonas em busca de uma terra preta fértil, usada para fins agrícolas. Conforme se aproximam do sítio dos indígenas Kawa, notam que a terra adquire poderes energéticos e sensoriais. As filmagens aconteceram em locações da cidade de Manaus e nos arredores do município de Iranduba AM, a 39 km da capital, onde foi alugado um sítio que se tornou o “O Sítio dos Kawa”.

E ainda PARA’Í, de Vinicius Touro, atração das sessões infantis, é uma ficção infanto-juvenil, rodada na terra indígena Jaraguá, na zona norte de São Paulo. O filme conta a história da Pará, uma criança Guarani que começa a entender a sua identidade a partir da descoberta de um milho colorido e muito tradicional. O filme possui acessibilidade em libras, legenda e audiodescrição através do aplicativo MovieReading (baixe o app aqui).

O Colibri, filme dirigido por uma das mais destacadas diretoras italianas contemporâneas, Francesca Archibugi, permanece em nossa grade. O Colibri é protagonizado por um homem, desde a infância apelidado de Colibri, cuja vida é marcada por coincidências, encontros, desencontros e amores fortes. Pierfrancesco Favino interpreta o personagem no longa, que ainda conta no elenco com o grande Nanni Moretti, Bérénice Bejo, Laura Morante, entre outros. Para criar essa história que começa em 1970, e vai até um futuro próximo, Archibugi, que também assina o roteiro com Laura Paolucci e Francesco Piccolo, partiu do romance homônimo de Sandro Veronesi, Caos Calmo. “Amei muito o romance e queria ser fiel a ele e, ao mesmo tempo, o usei como material pessoal, porque é assim que me sinto. O livro é estilisticamente aventureiro e queríamos não só entrar na aventura, mas também a reinventar”.

Também segue em cartaz na Sessão Vitrine, que tem ingressos no valor de R$15 a inteira e R$7,50 a meia, Rio Doce de Fellipe Fernandes, diretor do premiado curta O delírio é a Redenção dos Aflitos. Rio Doce foi o grande vencedor do Olhar de Cinema: Festival Internacional de Curitiba, conquistando o prêmio de melhor longa brasileiro da Mostra Competitiva Outros Olhares e Novos Olhares. Assistente de direção  em Aquarius e Bacurau, de Kleber Mendonça,  Fellipe Fernandes disse que em Rio Doce procurou acompanhar a jornada emocional de um homem negro periférico em crise com o modelo de masculinidade, sufocado pela solidão, pressão social e falta de compreensão dos próprios sentimentos. Tudo isso – explica – “em meio à sua relação com três gerações de mulheres e diante de um conflito de classes. Fernandes define o filme como uma construção coletiva, na qual a participação de todos foi fundamental. “A versão final do roteiro, aquela que foi filmada, foi construída a partir dos ensaios e das dinâmicas de criação que criamos com os atores/atrizes e preparadores de elenco. Nesse sentido”, conclui, “Fábio Leal e Carolina Bianchi exerceram papéis fundamentais no sentido de facilitar a comunhão desse processo criativo”. O filme possui acessibilidade em libras, legenda e audiodescrição através do aplicativo Mobi LOAD (baixe o app aqui).

Seguindo com o compromisso de semanalmente exibir um filme da nossa Seleção de Curta-metragem da Chamada Pública do Cine Brasília acompanhando um longa programado, apresentamos nesta semana Destino: Av. Brasil, dirigido por Jéferson Ge.

Curtiu a programação?  Acompanhe os horários no site e aproveite para assistir importantes obras do audiovisual ao longo da semana. Desde 2022, a casa do cinema brasileiro possui uma nova gestão compartilhada entre a OSC Box Cultural e a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal. O espaço cultural segue sob a direção geral de Sara Rocha e curadoria de Sérgio Moriconi.

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