Semana também terá sessão especial com acessibilidade do filme Clarice Lispector: A Descoberta do Mundo, com entrada franca para pessoas portadoras de deficiência

A colossal aventura da construção de Brasília foi testemunhada pelas lentes do cinema desde o seu primeiro dia.  A Capital planejada do País seria documentada em película desde a sua origem. Nos planos cinematográfico e simbólico, a edificação de Brasília era – por assim dizer – “A chegada do trem na estação de Ciotat”, registro histórico dos irmãos Lumière, que marca a invenção do cinematógrafo. Brasília usufruiu o privilégio de começar a existir quando já havia meios técnicos para a sua documentação cinematográfica. E com a cidade, veio a Universidade de Brasília, com sua ousada e extraordinária proposta de criar um curso de Cinema, sob a coordenação do grande crítico, professor e escritor Paulo Emílio Salles Gomes.

Sessenta e três anos depois, o cinema, assim como a cidade, não é um só. A produção se espalhou pelo centro e pela periferia, numa multiplicidade de gêneros e linguagens. Hoje podemos dizer que a cinematografia de Brasília é uma das mais relevantes do País e tem se destacado em festivais nacionais e internacionais.

A Mostra Brasília – Duas ou Três Coisas Que Sei Dela é um pequeno mosaico do que vem sendo produzido na cidade a partir dos anos 70 aos dias de hoje. A Mostra contempla da comédia escrachada de Betse de Paula (O Casamento de Louise), ao original e naturalista documentário de Maria Augusta Ramos (Brasília, um dia em fevereiro), até o cinema Cult trash do nosso bombeiro cineasta Afonso Brazza (Fuga sem Destino), passando por produções mais contemporâneas que dirigem o olhar para questões urgentes como a sobrevivência nas periferias em A Cidade é uma Só?, de Adirley Queirós; a especulação imobiliária aliada à corrupção em New Life S/A, de André Carvalheira; e, por fim, à novíssima realização de Bruno Victor e Marcus Azevedo, Rumo, exibido no último Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. O Pastor e o Guerrilheiro, de José Eduardo Belmonte, com produção de Nilson Rodrigues, nos remete aos tempos sombrios da Ditadura Militar no Brasil e não poderia ficar de fora da nossa seleção.

Entre as seleções de curtas, a Mostra exibe produções que surpreendem pela linguagem e ousadia de seus realizadores, como Mínima Cidade, de João Lanari Bo; Brasília, Ano 10, de Geraldo Sobral, e Brasília, Segundo Feldman, de Vladimir Carvalho. Um destaque especial vai para Brasília – A Cidade da Alvorada, do sueco Torgny Anderberg, filmado em 1959, com 20’ de duração, que traz as únicas imagens em cores do lendário painel que o pintor Alfredo Volpi realizou para a Igrejinha N.Sra, de Fátima da 308 Sul, painel hoje desaparecido, substituído pelo do pintor Francisco Galeno. A exibição tem o apoio da Embaixada da Suécia.

Brasília, Duas ou Três Coisas Que eu Sei Dela apresenta diferentes abordagens. Exibe a cidade no sentido mais amplo possível, como distintas paisagens humanas, como construções imaginárias e simbólicas que transcendem a geografia concreta de ruas, casas e indivíduos.

A Terra Negra dos Kawa, dirigido por Sérgio Andrade, participou de vários eventos cinematográficos, entre eles a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e o Festival do Rio. Esta curiosa ficção científica segue um grupo de cientistas que faz escavações em terrenos no interior do Amazonas em busca de uma terra preta fértil, usada para fins agrícolas. Conforme se aproximam do sítio dos indígenas Kawa, notam que a terra adquire poderes energéticos e sensoriais. As filmagens aconteceram em locações da cidade de Manaus e nos arredores do município de Iranduba AM, a 39 km da capital, onde foi alugado um sítio que se tornou o “O Sítio dos Kawa”. 

PARA’Í, de Vinicius Touro, atração das sessões infantis, é uma ficção infanto-juvenil, rodada na terra indígena Jaraguá, na zona norte de São Paulo. O filme conta a história da Pará, uma criança Guarani que começa a entender a sua identidade a partir da descoberta de um milho colorido e muito tradicional.

Outra estreia da semana, Rio Doce tem direção de Fellipe Fernandes, diretor do premiado curta O delírio é a Redenção dos Aflitos. Rio Doce foi o grande vencedor do Olhar de Cinema: Festival Internacional de Curitiba, conquistando o prêmio de melhor longa brasileiro da Mostra Competitiva Outros Olhares e Novos Olhares.

Permanece em cartaz O Colibri, filme dirigido por uma das mais destacadas diretoras italianas contemporâneas, Francesca Archibugi, conhecida no Brasil por A Árvore do Pico. O filme é protagonizado por um homem, desde a infância apelidado de Colibri, cuja vida é marcada por coincidências, encontros, desencontros e amores fortes. Pierfrancesco Favino interpreta o personagem no longa, que ainda conta no elenco com o grande Nanni Moretti, Bérénice Bejo, Laura Morante, entre outros. Para criar essa história que começa em 1970, e vai até um futuro próximo, Archibugi, que também assina o roteiro com Laura Paolucci e Francesco Piccolo, partiu do romance homônimo de Sandro Veronesi, Caos Calmo. “Amei muito o romance e queria ser fiel a ele e, ao mesmo tempo, o usei como material pessoal, porque é assim que me sinto. O livro é estilisticamente aventureiro e queríamos não só entrar na aventura, mas também a reinventar”.

No dia 26, quarta-feira, o Cine Brasília promove sessão especial com acessibilidade (libras, audiodescrição e closed caption) do filme Clarice Lispector: A Descoberta do Mundo, com entrada franca para pessoas portadoras de deficiência e acompanhantes.

Como parte do projeto de exibição de um curta-metragem antes de um longa, selecionamos o filme Joãosinho da Goméa – O Rei do Candomblé, curta que se propõe a contar a história de Joãosinho da Goméa, importante figura das religiões afro no Rio de Janeiro. A obra é construída a partir de performances que contam um pouco a história das religiões afro no Estado.

Curtiu a programação?  Acompanhe os horários no site e aproveite para assistir importantes obras do audiovisual ao longo da semana. Desde 2022, a casa do cinema brasileiro possui uma nova gestão compartilhada entre a OSC Box Cultural e a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal. O espaço cultural segue sob a direção geral de Sara Rocha e curadoria de Sérgio Moriconi.

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